AFONSO MENDES SOUTO

Um dos argumentos principais da defesa do reintegracionismo hoje é o da possibilidade de alargar, através das vantagens de ser galega/o, o nosso habitat no mundo. A nossa língua, através da sua norma internacional, pode dar-nos a possibilidade de colocar-nos mais facilmente nos países da lusofonia, fisicamente, virtualmente ou culturalmente embora seja da distáncia. Muito especialmente falamos no Brasil como potência emergente, ou mesmo já de facto, do ponto de vista económico. Mas para crescer há que alimentar-se bem.

As e os reintegracionistas queremos essas vantagens para nós pola facilidade que nos dá a condiçom de galegas/os. Mas o que damos em troca? Fazemos todo o que está nas nossas maos ou deixamos essa tarefa anotada num papel na gaveta como na espera de que alguém, nas altas instáncias, caia na conta e pegue no leme neste sentido?

Estamos sempre a reclamar, mas em que língua estám os links que colocamos nas nossas redes sociais na internet? De onde som os meios de comunicaçom aos que acudimos constantemente para difundir notícias? Na hora da verdade, que cultura estám a reproduzir e qual a ocultar o próprio reintegracionismo e as pessoas galegas em geral?

Há uns dias apareceu umha notícia sobre umhas pirámides que supostamente estám a aparecer polo degelo na Antártida. Independentemente de se é certo ou nom, alguém pensa que os meios de comunicaçom dos países da lusofonia nom falárom sobre isso? Por que tanta/o reintegracionista acabou por colocar o link da notícia em espanhol nas suas redes sociais?

Cumpre assumir de forma plena, prática, portanto, nom só teórica, a questom do reintegracionismo. Falamos de viver em galego-português, mas quando está ao nosso alcance nom fazemos tal cousa.

Nom só devemos difundir notícias em português. O que sabemos da música em língua portuguesa? E da sua literatura? Sabemos tanto como da que se escreve no Estado? Podemos utilizar as redes sociais para sermos aconselhados sobre leituras, filmes e música em português e assim neutralizar o que Espanha nos oferece.

Mudar a realidade, construir de abaixo para acima, está nas nossas maos. Nom está na agenda do PP introduzir no ensino a leitura em português de Saramago, Lobo Antunes ou Sophia de Mello; nom está na ordem de trabalhos da TVG projetar a qualidade do cinema brasileiro atual nem através de um só ciclo; nem, como vemos dia após dia, para o Noroeste Pop-rock da Corunha, ou para os eventos do 25 de julho em Compostela é que vaiam trazer aos nossos espaços públicos artistas de categoria de Gabriel o Pensador, Mariza, etc. Polo contrário, trazem o de sempre: Fangoria, Raphael ou Hombres G. Tu que escolhes? Achas que estás a (retro)alimentar-te bem para crescer?

Publicação original:
https://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/42480-retro-alimentaçom-e-internet.html

Remédios para o galego. Coordenação: Diego Bernal e Valentim Fagim. Associaçom Galega da Língua. http://www.atraves-editora.com

Vota neste item: