VÍTOR GARABANA
A proposta consiste em usar a Eurorregiom para ir muito mais além de um quadro de facilitaçom do “comércio externo” das empresas. Usá-la como umha unidade política transversal aos Estados, superando divisões estatais rígidas. A sobrevivência da nossa língua e cultura na Galiza vai de mãos dadas com a recuperaçom do espaço atlântico como plataforma económica e política, para o nosso progresso.
Trata-se de des-estrangeirar a Galiza em Portugal e Portugal na Galiza. Para nos misturarmos em todos os níveis: pessoal, laboral, legal, comercial, produtivo… Promover massivamente o movimento de pessoas no espaço atlântico, tirando partido da nossa língua comum “Galego ou Português” (GP). Agora está promovido só com Madrid.
A língua é fundamental, se calhar pode-se ver melhor com exemplos:
A Sara é arquiteta e está a trabalhar num projeto, para o qual foi contratada pola dona da obra. Tem que o levar às entidades competentes para a sua legalizaçom e finalmente entregá-lo, junto com um caderno de encargos, a umha construtora para a execuçom.
O Manel é camionista, tem de fazer um transporte. Recebe a encomenda, carrega a mercadoria com umha nota de remessa, entrega-a no destino e obtém um recibo. Tem problemas com o pagamento do serviço mas contrata um advogado e vai aos tribunais para o reclamar.
A Paula vai começar a trabalhar como empregada no restaurante “O Sargo”, para o qual tem de arranjar os seus papéis do Serviço de Desemprego e da Segurança Social. O Luís, proprietário do restaurante, para elaborar o contrato da Paula pede ajuda à sua consultoria administrativa.
Todas estas atividades de vida mencionadas, também como as comunicações orais e escritas associadas, precisam dum suporte: umha língua para serem realizadas.
Podemos pensar na Sara, o Manel, a Paula e o Luís como sendo pessoas galegas ou portuguesas, tanto fai. O que interessa é identificar o que deve ser corrigido para poderem trabalhar tanto na Galiza como em Portugal sem barreiras lingüísticas, sem importar de onde som.
Em Portugal todas estas atividades fundamentais podem ser desenvolvidas na língua comum (GP). Porém, na Galiza atual só serám possíveis em “Castelhano ou Espanhol” (CE). Vem marcado assim polas estruturas legais/ económicas sobrepostas na nossa sociedade, mas também polas estruturas mentais que regem na mente das pessoas galegas.
O sistema vigente leva as pessoas galegas a (1) adquirirem umha capacitaçom linguística só válida para o “Mundo Ñ” e (2) adquirirem umha cosmovisom que mostra a “via Madrid” como único caminho de interaçom com o resto dos países do planeta. E nom menos importante: na situaçom atual, a Sara, o Manel, a Paula e o Luís vivendo na Galiza e tendo crianças… em que língua quererám escolarizá-las e socializá-las? Se nada mudar, só em CE, evidentemente. É urgente na Galiza habilitarmos também a capacitaçom linguística na língua comum GP e promovermos umha cosmovisom atlântica. E é preciso abandonarmos a ideia contraproducente de que falamos umha língua diferente do português, por “evoluçom”.
Nom chamemos evoluçom à hibridaçom crescente com o castelhano, que acabará na dissoluçom total nele. Será necessário fazer as mudanças legais, administrativas, de capacitaçom das pessoas, para realmente a língua comum GP poder ser usada em todos os âmbitos, orais e escritos. Rachando o monopólio atual do CE, do “Mundo Ñ”.
Quando isto for feito, se a Sara, o Manel, a Paula e o Luís forem galegas, já nom terám razões para quererem que os seus filhos aprendam só CE.
Quando isto for feito, se a Sara, o Manel, a Paula e o Luís forem galegas, com a sua formaçom linguística e profissional poderám desenvolver a sua atividade tanto em Portugal como na Galiza.
Quando isto for feito, se a Sara, o Manel, a Paula e o Luís forem portuguesas, saberám que a Norte da Raia poderám trabalhar com a língua comum (GP), tanto na oralidade como na formalidade escrita.
Comprirá também gerir as posturas sociais “GP-fóbicas”, que estám sempre associadas a um afã monopolizador da visom CE, da visom do “Mundo Ñ”, na economia e sociedade galegas. Terám que entender que numha Eurorregiom do S. XXI a sua visom CE nom pode ser excludente da GP.
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