MARCO NEVES
Doze Segredos da Língua Portuguesa. Um livro essencial para quem se preocupa com o português e, ao mesmo tempo, não quer ficar preso a mitos e ideias-feitas sobre a nossa língua. Sabia que andam a circular por aí erros que não são erros? Sabia que as crianças precisam de muitas palavras para crescer bem? Sabia que há uma relação entre o acordo ortográfico e a guerra na Ucrânia? Sabia que a palavra «saudade» não é impossível de traduzir? Sabia que todos os portugueses têm sotaque? Sabia que o português e o galego estão tão próximos que, às vezes, se confundem? Sabia que os palavrões fazem bem (mas não convém abusar)? Num estilo claro e bem-disposto, o autor desmonta mitos e revela segredos da língua, com algumas histórias curiosas à mistura — e sem esquecer uma ou outra dica para escrever cada vez melhor.
Sim, eu sei. Poucos diriam que os galegos, neste tema das línguas, têm sorte. Mas estou convencido que têm muita sorte, se a souberem aproveitar. Gostava, então, de partilhar convosco esta outra perspectiva.
Apesar do desconhecimento sobre o tema que existe em Portugal, a verdade é que o galego e o português têm uma proximidade tão forte que é fácil confundi-los. Não vou insistir na discussão sobre unidades mais ou menos ilusórias. Isso interessa-me pouco, porque depressa vamos acordar os fantasmas tribais que temos dentro de nós e acabamos aos berros, em vez de aproveitar a tal sorte.
Interessa-me mais sublinhar isto: os galegos, os portugueses e os brasileiros, no que toca à língua, estão muito próximos. Podemos, com um pequeno esforço, conversar animadamente. Podemos até ler o que todos escrevemos. Sim, há sempre a estranheza do que não é exactamente igual. Não é igual, mas é muito próximo, e isso é imenso, queiramos nós fazer o tal pequeno esforço de que falava.
Ora, falei da sorte dos galegos. Pois, reparem. Haverá poucos galegos que não saibam castelhano. Com o castelhano chegam eles (os galegos) a centenas de milhões de pessoas. E, com o galego e a sua proximidade ao que portugueses e brasileiros falam, chegam a mais umas quantas centenas de milhões de pessoas.
Os galegos, ali no canto noroeste da Península, podem dar-se ao luxo de somar centenas de milhões com mais centenas de milhões de pessoas com quem podem conversar e de quem podem ler a literatura e muito mais.
Sim, apesar de todas as discussões, apesar dos fantasmas tribais, os galegos têm essa sorte.
E nós, portugueses (e também brasileiros) podemos ter a sorte de lhes dar um pouco mais de atenção, porque a Galiza é como um tesouro escondido no sótão de que já não nos lembramos.
É por isso que, num livro que publiquei sobre a língua portuguesa há poucas semanas (Doze Segredos da Língua Portuguesa, Guerra & Paz), escrevi muito sobre o galego: essas proximidades que irritam tanta gente são uma riqueza e uma sorte de que poucos se dão conta. Sim, o galego importa e o galego é algo que podemos redescobrir, para percebermos melhor donde veio a nossa língua e, no fundo, donde viemos nós.
Esqueçamos os medos e os fantasmas. Redescobrir o galego é uma sorte para todos nós: portugueses, brasileiros e, claro, galegos.
Publicação original
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