MAURÍCIO CASTRO

É um facto de difícil contestaçom, nem que seja para os ainda contrários à confluência ortográfica, que o idioma internacionalmente conhecido polo nome de Português nasceu no território do que na altura (por volta do século IX) era o Reino da Galiza, incluindo, certamente, um pedaço do que depois passou a ser a Regiom Norte de Portugal (a Galiza Bracarense).

O português é geneticamente galego e a sua identidade fundamental, nos traços essenciais que lhe dam caráter e especificidade no ámbito das línguas neolatinas, continua até hoje.

Certamente, esta afirmaçom é já mais discutível, eu sei, mas isso é só por causa da interferência da política, um ingrediente fundamental na caraterizaçom e na praxe daquilo que, nom por acaso, se chama “política lingüística”.

De qualquer maneira, e para além das diferenças na consideraçom política da língua, queria hoje apresentar a quem nos lê alguns dados de interesse que só aspiram a enriquecer a reflexom coletiva sobre o presente e o futuro da nossa língua aqui, entre nós… na Galiza.

Motivou este impulso a atualizaçom dos dados demográficos no Brasil, por parte do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que oficializam o aumento do número de habitantes do Brasil, situando-o acima dos 202 milhons.

Como se sabe, as mais de 200 línguas indígenas que ainda sobrevivem no grande país sul-americano som faladas por menos de 1% da populaçom brasileira, que mesmo assim costuma ser bilíngüe.

Em África, som Angola e Moçambique os principais países em número de falantes de português, se bem ambos contam com dúzias de outras comunidades lingüísticas originárias.

Assim, no caso de Angola, com 21,4 milhons de habitantes no início deste ano1, estima-se em 70% a percentagem de falantes de português, quer dizer, 15 milhons de angolanas e angolanos, o que a converte no segundo país em número de falantes de português no mundo.

Moçambique, com 23,3 milhons de habitantes, tem umha percentagem de 39% de falantes2, quer dizer, uns 9 milhons de falantes de português. Já em Cabo Verde, com 512 mil habitantes3, calcula-se que 87% fala português, a maioria na condiçom de bilíngües, já que o crioulo cabo-verdiano é a língua inicial da prática totalidade. Seriam, entom, 445 mil falantes de português.

Portugal tem por volta de 10,4 milhons de habitantes4, todos eles e elas falantes da língua comum. Portanto, Portugal ocupa só o terceiro lugar em peso demográfico de falantes.

Voltando a África, Guiné-Bissau, com 1,7 milhons de habitantes5, conta com 57% de falantes de português (969 mil), enquanto São Tomé e Príncipe, com 193 mil habitantes10/6, 91% dos quais falantes de português (175 mil).

Se isso somarmos os 20% de falantes de português em Timor, cuja populaçom total é de pouco mais de 1 milhom de habitantes7, deveremos somar 200 mil falantes ao total mundial, que será, somando a Galiza e salvo erro no cálculo, de mais de 240 milhons de falantes de português no mundo.

Todo um universo em expansom, já que, com exceçom da Galiza e de Portugal, no resto de países lusófonos nom só aumenta a populaçom, como também, sobretodo no caso de Angola e Moçambique, aumenta a percentagem de falantes de português.

Umha língua, a nascida no nosso país e levada polo império português aos quatro cantos do planeta num nada heroico percurso, que na atualidade é já a sexta mais falada no conjunto do planeta. É também, lembremos, a primeira em número de falantes do emergente hemisfério sul, onde vivem quase 220 milhons de pessoas cuja língua principal é o português.

Na Europa, o português é a terceira língua com mais falantes, enquanto em ámbitos tam influentes como a internet ocupa posiçons ainda mais elevadas (quinta em presença na internet, terceira no Facebook e no Twitter…).

1 http://www.datosmacro.com/demografia/poblacion/angola
2 http://revistalingua.uol.com.br/textos/99/os-limites-da-lusofonia-304206-1.asp
3 http://www.portugalcaboverde.com/item1.php?lang=1&id_channel=23&id_page=133
4 http://www.pordata.pt/Portugal
5 http://novasdaguinebissau.blogspot.com.es/p/demografia-da-guine-bissau.html
6 http://www.infopedia.pt/$sao-tome-e-principe;jsessionid=3PddA0XpUa1Dd5ef-kIC5A
7 http://www.infopedia.pt/$timor-leste

Publicação original:

http://www.sermosgaliza.gal/opinion/mauricio-castro/paradoxo-tragico-do-gale-go/20140828203426030167.html

Remédios para o galego. Coordenação: Diego Bernal e Valentim Fagim. Associaçom Galega da Língua. http://www.atraves-editora.com

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