LUÍS FONTENLA

Permite-me que escreva como se estivesse a falar contigo.

E é que eu gostava de me dirigir diretamente a ti, para dizer-te que tens razão. O galego não é português.

Mas também para que consideres outras razões que também são verdade. Porque o galego é também um dialeto do castelhano.

E além disso o galego é uma “língua” independente.

O galego é também um dialeto do português e, ainda mais:

Até, em verdade, é o português que é realmente dialeto do galego, que foi a língua originária.

Todas estas afirmações podem ser verdade. São de facto verdade para muitas pessoas.

E porquê?

Porque no nome de “galego” (não esqueçamos que até há 50 anos o nome era “o galhego”) é um saco onde entra isto tudo.

Depende de que dados escolhas e de como queiras viver a tua língua e a de nós-outros, dependendo das experiências de cada um, podes chegar a qualquer uma destas conclusões e ter muita razão no teu argumentário.

Outra cousa é o grau de utilidade, de felicidade, de alegria a que te leve o teu posicionamento.

E, é claro, também a tua escolha levar-te-á a saídas diferentes ou a becos sem saída para esta nossa “fala” comum.

Há um galego que sem lugar a dúvida é dialeto do castelhano. Basta ouvir a Rádio galega, entrevistando alguém de Madri (cousa tão frequente que com certeza tens ouvido alguma vez) e ver que a maneira de utilizar o “galego “ nesse contexto coloca-o como dialeto pitoresco do espanhol.

Há um galego “língua independente” sem dúvida. É desse invento do que chucham, desculpa “mamam”, todos os profissionais da norma ILG-RAG.

Há um galego dialeto do português. É assim que é visto em Lisboa quando nos achegamos a eles e querem ouvir-nos falar para ver quanto de pitoresco é o nosso falar, como algo engraçado. Como se fossemos da Madeira ou de Cabo Verde. Enfim, o exótico, o que não é comum.

Sim, até parece que falamos português.

E há um português dialeto do galego. Este é o dos irredutiveis. Convencidos, por fim de que falam uma língua partilhada com outros. Mas nem por isso deixa de ser “nacional”, antes de mais “nossa” e em tal caso eles, os portugueses, é que a fizeram dialetal com o seu falar estranho, nós mantemos a originalidade da língua a sério.

Isto por estranho que poda parecer é o mesminho que pensam muitos portugueses do brasileiro.

E que queres que che diga.

Vejo que procuras insistentemente dados que comprovem o que a priori escolheste.

Cada um é livre de viver a sua língua como quiser.

Eu gostava de tentar mostrar-te as minhas escolhas. Porque quando muda algo na tua cabeça começas a ver lusismos por todo o lado. Mas se a ti te fai feliz onde estás… pois olha, nom mudes!

Eu que já levo visto um pouco de cada parte da Galiza no tempo que levo observando a língua podo contar-che as “portuguesadas”que levo visto, sim, a sério, que isto dos falantes de galego tem muito que se lhe diga. Parece tudo normal, falam-che assim no galhego de toda a vida e de repente no meio soltam-che uma portuguesada, sabes, uma palavra dessas raras que nom pinta nada no meio do galego autêntico: Que no Courel seica dizem “gado” e nom “gando” e “cais” e nom “cans”, e que na Guarda mesmo falando castelhano “no dan pancada”, e bem, que te vou contar, em Lugo moram a minha “mãi” e o meu “irmau”, mas nada disto é surpreendente.

Em Amarante, Portugal ouvi dizer pola-i-auga, e em Turéi (Tourém-Portugal) “A Compostela se nom vás de morto vás de vivo” .

Detalhes duma língua que talvez foi comum?? Quem sabe?

Mas ainda recentemente encontrei um amigo em S. Simom da Costa que dizia “pêxego” e nom “pexegho” e por estas terras da Costa da Morte também tenho reparado nos lusistas que hai por todas partes que dim “ao direito de” e nom “directo de”.

E há também algum documentário no youtube (“quarta-feira logo vem”), que te recomendo, que fala deste dito popular “hoje é luns, manhã é martes, quarta-feira logo vem….”.

Ainda podia duvidar coma ti duma língua comum, o que se passa é que a toponímia é teimuda e me indica cousas diferentes que a ti.

Tenho visto “Muebles Toiran”, “Faramontãos” “Andiao” , “Guimaráns” e “Guimarais”, e cousas assim, ok, olha pode ser, cousas raras hai-nas em todas partes.

Mas ultimamente dá-se o caso que dei em morar perto do lugar da “charrua“ que nom “arado” e vai-te tu ver que está próxima do lugar da “panela” que nom “pota” e já estava eu pensando cousas estranhas quando o outro dia que fum a Xanceda e aí sim, topei-me com o definitivo, o lugar da “caneta” que nom “boligrafo”.

Aí é que desisti de procurar mais argumentos.

Se queres sempre estarás a tempo de te somar ao carro da alegria, da música, dos filmes, dos conteúdos para crianças, da Internet em português, …..

Em galego, se tu queres, estás no mundo. Que mais te podo dizer….

Vem connosco gozar desta experiência!

Publicação original

Texto ligeiramente modificado sobre http://praza.gal/opinion/4065/em-resposta-ao-artigo-de-lc-carballal/#disqus_thread, julho de 2017


Remédios para o galego. Coordenação: Diego Bernal e Valentim Fagim. Associaçom Galega da Língua. http://www.atraves-editora.com

 

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